segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

o Beijo do Judas

Era bela. Formas arredondadas que cabiam nas mãos. De sorriso estonteante e olhos de mistério. Era alegre como uma criança, mas pontual em seus desejos, todos eles. Costumava prostrar-se aos meus pés como súdita obediente, uma discípula das mais fieis, mas de qualquer forma eu sabia que em seu coração habitava toda a podridão do mundo, só não sentia a necessidade de lhe revelar para ele enquanto pudesse lhe domar. Judas sempre com a voz tão dócil, sempre me oferecendo abraços tão apertados quanto os de uma cobra, achou que me veria sucumbir. Pobre diabo, já vi tantas vidas miseráveis  como a sua se findarem, outras nem começarem, e umas tantas levei comigo pra pintar os lábios de sangue . Judas me beija, sem saber que o meu beijo lhe tiraria tudo, cada segundo de paz que acredita ter. Judas tem muito a aprender com o meu silêncio. Fui capaz de virar a outra face em seu repeito, pelas coisas que havíamos vivido, mas veio impiedoso, me denunciar, sem saber que eu já conhecia seus passos e liderava o seu próprio caminho. Você nada pode contra a louca, é uma luta perdida que não sei porque se dispõe a comprar, mas se assim deseja vou destruir tudo o que ama, vai viver e rastejar por toda a sua infame existência  lembrando como se destruiu, de como atravessou o meu caminho de forma errada e o quão benevolente fui em lhe permitir encher os pulmões de ar dia após dia. Lembre que o vazio que lhe cerca foi culpa sua, Judas.