Era
bela. Formas arredondadas que cabiam nas mãos. De sorriso estonteante e olhos
de mistério. Era alegre como uma criança, mas pontual em seus desejos, todos
eles. Costumava prostrar-se aos meus pés como súdita obediente, uma discípula
das mais fieis, mas de qualquer forma eu sabia que em seu coração habitava toda
a podridão do mundo, só não sentia a necessidade de lhe revelar para ele enquanto
pudesse lhe domar. Judas sempre com a voz tão dócil, sempre me oferecendo
abraços tão apertados quanto os de uma cobra, achou que me veria sucumbir.
Pobre diabo, já vi tantas vidas miseráveis como a sua se findarem, outras nem começarem,
e umas tantas levei comigo pra pintar os lábios de sangue . Judas me beija, sem
saber que o meu beijo lhe tiraria tudo, cada segundo de paz que acredita ter. Judas tem muito a aprender com o meu silêncio. Fui capaz de virar a outra face em
seu repeito, pelas coisas que havíamos vivido, mas veio impiedoso, me denunciar,
sem saber que eu já conhecia seus passos e liderava o seu próprio caminho. Você
nada pode contra a louca, é uma luta perdida que não sei porque se dispõe a
comprar, mas se assim deseja vou destruir tudo o que ama, vai viver e rastejar
por toda a sua infame existência
lembrando como se destruiu, de como atravessou o meu caminho de forma
errada e o quão benevolente fui em lhe permitir encher os pulmões de ar dia
após dia. Lembre que o vazio que lhe cerca foi culpa sua, Judas.