domingo, 19 de abril de 2015

Capitolina

Uma vez, Machado de Assis escreveu sobre os olhos de uma mulher. Segundo ele, ela, Capitolina, tinha olhos oblíquos de cigana dissimulada, olhos de ressaca. No século XIX Machado já falava sobre esses olhos grandes e claros que brincavam com o juízo de Dom Casmurro, e em pleno século XXI consigo entender perfeitamente o que ele dizia. 
Tem olhos que nos tiram a sanidade (a pouca que eu tinha já se foi), que em um relance de poucos segundos nos prendem por toda a vida. Hipnotizam sem dó quem estiver pela frente e esses coitados, atropelados, viram seus reféns. Poucos tem essa capacidade de acorrentar pessoas sem nada falar, sem fazer chantagens. 
Depois, ainda podem desacorrentar a vítima, e eu garanto que ela não esboçará reação alguma, ficar presa por vontade quando se tem total liberdade de partir. É querer ficar, besuntar-se em olhos que nada dizem e ainda assim não o deixam partir. É ter a prerrogativa de ir quando julgar cabível, e nunca ser cabível. 

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