Você
vem e se apropria de tudo.
Das
músicas que sequer são tuas, dos pensamentos qu
e sequer são meus,
me
sufoca sem as mãos.
E
ainda assim espera que eu ande sozinha.
Me
despe das minhas muletas,
diz
que me quer forte quando não tenho isso a oferecer.
Você
é doente, e me faz doente também.
Já
não vejo beleza na língua viperina que me suga o ar,
as
correntes que me prendem ao chão nunca me pareceram tão pesadas.
A
carne viva da tortura frequente reclama
ao mínimo esforço em busca da liberdade.
Estou
esquecida num poço onde somente você,
meu próprio algoz, ousa me visitar.
Me
mantém viva porque a dádiva da sua vaidade sou eu
que
não canto, não voo, só sirvo de enfeite em uma gaiola dourada,
o
tipo de servo que melhor te apetece, não é assim?
Lembro-me
de quando dizia que todos eles eram gado.
Eu,
ao seu lado, jamais teria como descobrir que era integrante
do
rebanho enlouquecido que lhe consome e se permite consumir.