domingo, 18 de outubro de 2020

Sem Perdão

Você vem e se apropria de tudo. 

Das músicas que sequer são tuas, dos pensamentos qu
e sequer são meus, 

me sufoca sem as mãos. 

E ainda assim espera que eu ande sozinha.

Me despe das minhas muletas,

diz que me quer forte quando não tenho isso a oferecer. 

Você é doente, e me faz doente também. 

Já não vejo beleza na língua viperina que me suga o ar, 

as correntes que me prendem ao chão nunca me pareceram tão pesadas.

A carne viva da tortura frequente reclama 
ao mínimo esforço em busca da liberdade. 

Estou esquecida num poço onde somente você,
meu próprio algoz, ousa me visitar.

Me mantém viva porque a dádiva da sua vaidade sou eu 

que não canto, não voo, só sirvo de enfeite em uma gaiola dourada, 

o tipo de servo que melhor te apetece, não é assim? 

Lembro-me de quando dizia que todos eles eram gado.

Eu, ao seu lado, jamais teria como descobrir que era integrante

do rebanho enlouquecido que lhe consome e se permite consumir.

 


5 comentários:

  1. O amor é a guerra inglória em que render-se é que é a vitória.
    GK

    ResponderExcluir
  2. Sensacional. Parabens por dividir sua visao das coisas com o mundo

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  4. Amo como tu consegues descrever a angústia que é carregar o peso de amar. Parabéns, amiga!

    ResponderExcluir
  5. Já passei diversas vezes por esse fardo. E uma dor estranha, que quando o outro está perto o prazer vem. E muito louco, e muito puro. Saudades de tu muié.

    ResponderExcluir